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Foto do escritorJessica Fiuza

A ARTE DO EMPRATAMENTO


Muitas vezes quando escolhemos um prato, seja em um restaurante ou folheando as receitas de um livro para fazer em casa, comemos primeiro com os olhos.


São as cores, texturas e toda harmonia criada naquela composição que nos desperta o desejo de saborear a comida.


A arte de criar essa composição é chamada de empratamento e é uma área da gastronomia conhecida como food design ou até mesmo food styling.


Mas você não precisa - ou pelo menos não deveria precisar - ser um especialista na área para criar comidas que além de saborosas, são visualmente apetitosas.


Esse trabalho é uma forma de olhar diferente para o mundo á nossa volta, com mais atenção, cuidado e carinho, seja por cada ingrediente, pelo processo de cozinhar em si ou pela vida que estamos construindo e pelas pessoas que estão nela.


Afinal, se a comida já é reconhecida como uma forma de cultura porque não podemos extrapolar o único sentido do paladar e criar experiências que envolvam todos os nossos sentidos?


COMO CRIAR UM PROCESSO ARTÍSTICO?


Cada pessoa vai desenvolver esse processo artístico de uma maneira única e completamente pessoal.


Mas geralmente todos eles começam na inspiração - ou como muitos artistas chamam, na etapa de saturação.


É nesse momento que você vai colher referências, que podem variar de um simples ingrediente isolado no qual você consegue ver beleza como até mesmo pode ser todo um cenário extremamente complexo.


A partir disso você pode montar um moodboard - que é uma coleção visual dessas referencias, pra com base nela começar a rascunhar as suas ideias e assim estruturar seu processo criativo.


Uma coisa importante é lembrar que cada pessoa tem seu tempo e que o autoconhecimento é muito importante para o desenvolvimento desse processo para você conseguir estabelecer o que funciona melhor ou não para você. Isso vai evitar muitas frustrações e até mesmo uma porção dos temidos bloqueios criativos.


Entendendo isso, eu vou contar um pouquinho de como eu gosto de trabalhar: após criar uma painel de referencias, eu começo a fazer um rascunho á lápis com a minha ideia principal e para isso eu gosto de pensar que ao montar um prato eu estou contando uma história.


Logo, existem personagens principais, secundários e até mesmo figurantes, assim como existe a ambientalização e o pano de fundo. E todos esses elementos são essenciais para o conjunto daquela obra.


Por isso eu defino o papel de cada elemento e como desejo que ele seja mostrado. Muitas vezes, para mim isso não vem como uma figura mental de como desejo que aquele prato fique, mas como um sentimento ou uma palavra. Porque apesar de ainda não conseguir visualizá-lo, eu sei como desejo que ele faça eu me sentir.


Então eu anoto tudo isso, crio esse rascunho e começo a lapidá-lo.

Vou observando e citando qual técnica preciso aplicar na cozinha pra atingir aquele resultado afim de descobrir se a produção é inclusive viável.


E apesar de parecer algo muito complexo e trabalhoso, as vezes esse processo acontece até em dez minutos dependendo do que eu estou me propondo á criar e a experiência que tenho com o material.


Após esse momento eu faço a experimentação, que não é nada mais e nada menos do que botar a mão na massa. Vou para minha cozinha e crio aquele prato pela primeira vez. Se necessário faço correções e ajustes até que consiga executar aquela ideia com maestria.


Fotografo o resultado que é não só o que uso para anunciar um produto, mas é também o meu registro que vai ser anexado á ficha daquele projeto com todas as etapas e ficará guardado no sistema do meu computador (e no meu fichário de receitas).


FUNDAMENTOS DA COMPOSIÇÃO

Todos processo artístico é único, mas existem algumas bases e princípios que podem te ajudar nessa caminhada e que vou adentrar brevemente, sendo a paleta de cores e as percepções gestals.


PALETA DE CORES

A combinação de cores é essencial para ter um resultado final que além de bonito, seja também mais harmônico.


Você pode escolher trabalhar com as cores e tons naturais dos próprios ingredientes - sendo essa a minha escolha pessoal por trazer o prato sempre para o mais natural e real possível.


Contudo também pode escolher fazer algo mais disruptivo e trabalhar com altos contrastes e saturações, além de cores fantasias por meio do uso de corantes e pigmentos.


O importante aqui é delimitar a paleta e ver como essas cores trabalharão juntas. Para isso você pode usar tabelas de cores online ou até mesmo montar a sua com um software simples de edição de imagens.


PERCEPÇÕES GESTALS

Gestalt é uma palavra em alemão que significa forma e figura, nomeando uma teoria psicológica sobre a nossa percepção visual.


É uma noção muito interessante de termos como bagagem pois vai trazer conceitos de equilíbrio, clareza e harmonia das formas na estruturação da imagem pelo nosso cérebro.


Sendo assim, o primeiro ponto a ser compreendido é o de semelhança, uma vez que objetos parecidos ou similares se agruparão entre si e não os perceberemos de maneira individual e/ou independente.


O segundo ponto é o de proximidade, já que elementos próximos tendem a se agrupar, constituindo uma unidade. Enquanto os elementos afastados causam a sensação de isolamento ou não pertencimento ao conjunto.


Em terceiro temos a continuidade, que nos diz respeito á fluidez de uma composição. Ou seja, se conseguirmos estabelecer uma harmonia naquele prato ou pelos menos apresentarmos as mudanças de uma forma gradual - invés de abruptas, teremos uma boa continuidade.


A quarta percepção gestal é de pregnância, que também podemos chamar de uma maneira muito mais fácil de regra da simplicidade. Esse conceito nos diz que os elementos são vistos e assimilados da forma mais simples possível pelo nosso cérebro. Então dependendo da nossa intenção ao criar um prato, conseguimos conjecturar se aquela composição realmente fará sentido ou se passará despercebida, dando muitas vezes até uma impressão de sobrecarga/poluição visual.


Em quinto temos o fechamento, que é o fato de nosso cérebro produzir contornos que não existem para dar forma á uma imagem. Porem muitos elementos agrupados parecem se completar e podemos ver figuras geométricas mesmo quando elas não estão propositalmente naquela composição.


O sexto ponto é o de unidade, já que mesmo uma imagem abstrata pode ser entendida pela mente humana uma vez que preenchemos os espaços vazios instintivamente. É uma das minhas regras favoritas porque diz muito a respeito da organização e disposição dos elementos em um prato e nos permite criar composições originais a partir da nossa noção pessoal acerca daquilo que já existe.


A sétima percepção é a da segregação e vai nos falar sobre como podemos diferenciar ou evidenciar objetos, ainda que sobrepostos. Isso pode acontecer por causa de um contraste, variação da forma ou qualquer outro estímulo sensorial que ele utilize como recurso.


Por último temos a unificação, que vai englobar todos os conceitos vistos até aqui pra dizer se uma composição possui equilíbrio e harmonia.



BAGAGEM PESSOAL E REFERÊNCIAS

Se vimos até aqui como estruturar processos criativos e noções de fundamentos estéticos, esse tópico agora traz uma carga que é emocional, subjetiva e que vai falar muito por nó mesmos que são as nossas referências pessoais e o que consumimos artisticamente.


Todo ser humano sofre influências externas diariamente, seja pelo ambiente em que vive, como pelo conteúdo que consome. Ter um aporte referencial do que é a estética, conhecer a criação humana através da história e a partir disso decidirmos como absorvermos essa produção para depois produzimos o que desejamos, é algo incrivelmente único.


Por isso é tão importante ao se propor em criar algo, conhecer o que já existe, estar sempre se atualizando e também renovando a nossa capacidade de se encantar e apreciar o que nos rodeia.


Então seja em uma exposição, seja ouvindo uma música, vendo um filme, viajando ou até mesmo andando no eu bairro, aprenda a apreciar as imagens e os estímulos que te cercam, aprenda a identificá-los, diferenciá-los e analise de forma sincera como você se sente em relação á tudo isso. Porque é a partir disso que você forma uma identidade visual pessoal e um senso estético.


Dois livros específicos que eu recomendo são "O que é arte?", de Ernst Gombrich, e o "Beleza - o que é e porque importa" de John-mark L. Miravalle.


Mas claro que você pode procurar nichos específicos que despertem ainda mais a sua atenção, como arte moderna (HH Arnason), clássica (Mary Beard e John Henderson), afro-americana (Sharon F. Patton) e tantas outras vertentes que podem te guiar nessa trilha de descobrimento e aprendizado.


Agora se você ainda está indeciso e está procurando um livro para te convencer a gostar mais e se interessar pelas produções, eu indico o "Arte importa: Porque sua imaginação pode mudar o mundo" do Neil Gaiman.


O campo das artes muitas vezes parece difícil, complicado, ou até mesmo inacessível. Mas a arte nos rodeia e nos molda, por isso eu espero que após esse post você se sinta cada vez mais inspirado a não só criar lindos empratamentos, mas também á ter um olhar de curiosidade, gentileza e beleza para com toda a sua vida.





  • A primeira dica de todas e mais clássica, é sempre colocar no prato apenas ingredientes que podem e devem ser comestíveis e harmonizam diretamente com a comida. Não adianta querer enfeitar uma coxa de frango com folha de menta se o sabor proposto não for compatível.

  • Não coloque folhas em cima de ingredientes quentes, elas vão murchar.

  • Evite alimentos muito caudulentos em pratos rasos.

  • A louça é importante, mas na dúvida opte pela simples e básica, deixando o destaque para o alimento.


 


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