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A BELEZA DE SERMOS QUEM SOMOS

Foto do escritor: Jessica FiuzaJessica Fiuza

Hoje o post não é uma receita e nem uma dica gastronômica, mas um agradecimento á todos que de alguma forma fazem ou já fizeram parte da minha jornada empreendendo, pois eu queria uma forma de reconhecer todo incentivo que recebi e também celebrar a mim mesma por ao longo desse caminho, nunca ter desistido.


Aviso aos navegantes e leitores que é um texto longo, as vezes ao longo dele e dessa empreitada eu quis desistir, então talvez você também queira. Mas eu sempre encontrei um motivo para continuar, então se você procura um motivo para si, fica mais um pouco que talvez a minha história te ajude a encontrar um!


Quando eu comecei esse blog em janeiro de 2018 eu queria ter a oportunidade de ensinar conteúdos que eu tive que pesquisar muito pra aprender na cozinha, fazer resenhas de livros de receitas que eu tive que comprar para depois descobrir se valiam a pena ou não e em última instância até mesmo falar sobre estilo de vida, aconchego e tudo que eu sentia falta nas rotinas contemporâneas.


A ideia de conciliar a escrita com a minha cozinha e o atendimento aos clientes foi um verdadeiro malabarismo e nas publicações acabei priorizando metodologias e receitas, e falando pouquíssimo sobre mim: no que eu acredito, porque eu faço o que faço e como é de fato, viver essa experiência.


Então faço aqui uma apresentação completa, eu sou a Jessica Fiuza, alguém cujo maior trabalho na vida é se dedicar ao cuidado do outro, á criação de momentos de encanto e memórias, assim como oferecer conforto dentro de pequenos gestos ou nas ações cotidianas.


COMO EU COMECEI

Eu não sou cozinheira e nem fotógrafa por formação, na verdade eu me formei em 2012 em Comunicação Social, trabalhei por muitos anos dentro de redações, agências e até tive uma editora de livros independente (que deu errado) em 2015. Depois disso voltei pro mercado corporativo e seria um post motivacional mais bonitinho se eu dissesse que três anos após essa experiência eu já tinha maior maturidade para gerir o meu próprio negócio, percebi o quanto precisava mudar a minha vida, buscar algo que fosse mais significativo e por isso sai do mercado... mas a verdade é que eu comecei a empreender como a grande maiorias dos brasileiros fazem, por necessidade num momento de desemprego.


No final de 2017 eu me vi numa situação muito parecida com a que me vi no ano passado: enfrentando muitas dificuldades financeiras, responsabilidade perante ao cuidado da minha família e ainda a necessidade de tratamento de um dos meus animais de estimação, tudo isso enquanto lidava com o fato de que empresas da minha área de atuação não aceitavam muito bem a possibilidade de manter um funcionário em home office para que ele pudesse acompanhar o cachorro no tratamento renal diariamente.


Eu com o Charlie, meu cachorrinho que em 2017 descobrimos ser um paciente renal. Eu ainda não sabia como minha vida ia mudar, mas sabia que por eles valia a pena, porque é nesses pequenos que o meu coração mora
Eu com o Charlie, meu cachorrinho que em 2017 descobrimos ser um paciente renal. Eu ainda não sabia como minha vida ia mudar, mas sabia que por eles valia a pena, porque é nesses pequenos que o meu coração mora

Naquele momento eu sabia que tinha dois caminhos possíveis, insistir no corporativo sabendo que poderia levar meses até conseguir uma recolocação e sem saber como conciliar a candidatura e ausência de salário enquanto não fosse contratada com o tratamento que era essencial, ou tentar algo novo fazendo o que eu sabia, era minha paixão e poderia pagar minhas contas, mas para o qual não tinha preparo nenhum: cozinhar e fotografar.


Eu tinha uma câmera, uma panela e um sonho, foi assim que escolhi dar um salto de fé e ouvir meu chamado interior acreditando que ele me traria o que eu precisava para manter meu lar e cuidar daqueles que amava.


A COZINHA, A CÂMERA E A JORNADA DO HERÓI

Nesse começo de caminhada a cozinha não tinha nome, nem tinha identidade de marca, as fotos não seguiam nenhum padrão estético e eu não fazia a mínima ideia do que ela se tornaria.


Na verdade eu não sabia nem como as contas do mês fechariam e cada vez que fechava, eu sentia uma pequena vitória por ter conseguido mais uma vez.


Comecei sovando muita massa de pão na mão, usando embalagens plásticas simples e sacolas de papel, vendendo marmitas, virando madrugadas com a minha mãe me ajudando e tirando fotos no quintal. Nada ali era ideal.


Duvidei da minha capacidade inúmeras vezes e ouvi de terceiros que eu era imprudente por abandonar minha carreira mais vezes ainda. Senti na pele o preconceito que as pessoas tem por quem trabalha com serviços essenciais e básicos.


No final da equação achei que seria mais "adequado" tocar a cozinha e prestar consultoria em marketing AO MESMO TEMPO e me deparei gerindo dois pequenos negócios simultaneamente, onde nenhum dos dois realmente avançava ou me representava.


Por muitas vezes - na verdade quase que diariamente - eu tive medo do fracasso, achando que o fantasma da editora que nunca conseguiu andar sozinha voltaria pra me assombrar por mais uma temporada. Me sentindo uma fraude cada vez que uma empresa não pagava um freela, ou um fiasco cada vez que um cliente da cozinha tentava pagar fiado.


Mas minha vontade de mostrar que existia um jeito diferente e possível de se viver fora daquela rotina corporativa, onde minhas mãos eram capazes de criar o que minha mente projetava, a mágica de ver algo tomando forma pela primeira vez... foi a paixão por esse sentimento de encanto que me fez insistir e prosseguir, mesmo com medo, cansaço e errando mais vezes do que gostaria.



FIKA & HYGGE

Após 18 meses, ficou claro para mim que eu precisava descobrir quem eu era pra que minha empresa me refletisse e nessa hora eu entendi o que Yeats dizia com "o mundo está cheio de coisas mágicas, esperando pacientemente que os nossos sentidos se tornem mas nítidos para que possámos vê-los"


Eu apurei cada sentido, escavei meus sonhos, trouxe de volta pequenas fantasias de criança, apliquei ideologias que se alinhavam com as minhas crenças e me propus a ser artista e assinar meu trabalho como cozinheira e também como food stylist.




Escolhi o nome Fika & Hygge no final de 2019, por entender que essas duas filosofias escandinavas representavam o que eu mais me propunha á resgatar com o meu trabalho e queria que os clientes sentissem ao comprar algo de mim ou me contratar: a confiança, o afeto e a valorização do simples mas feito com excelência.



A ENCRUZILHADA

O que parecia seguir uma narrativa confiante de que nossa heroína havia encontrado seu caminho caiu por terra abaixo com a chegada da pandemia, e meus amigos, eu posso falar que naquela hora, eu quebrei.


Quebrei a cara, quebrei financeiramente e ainda assim sai juntando meus pedacinhos enquanto agradecia imensamente, por mesmo naqueles caos, ter conseguido manter meus pais aqui, junto de mim, em carinho e segurança.


É nessa hora que realmente vale aquela palavra da moda, RESILIÊNCIA.

Ser completamente atropelado por fatores externos que estão fora do nosso controle, num momento onde você acreditava que poderia estar se encontrando dentro daquilo que fazia, é e muito, desanimador. Ter que enfrentar isso sem perder o encanto, alegria e amor que eu tinha pelo fazia foi ainda mais. Mas eu fiz e recomecei com mais carinho ainda. Foram dois anos cheios de incertezas, remodelando cada forma da minha cozinha trabalhar para se adequar a novas necessidades, para contornar falta de materiais disponíveis, cativar novos clientes e de novo eu me vi como uma malabarista tentando conciliar tudo isso com consultoria em comunicação para pagar dívidas, fornecedores e equipamentos.


Me senti sozinha, me senti cansada.


Finalmente ano passado (2024) depois de muita luta, com orçamento organizado e minha família estabilizada, eu resolvi tirar as rodinhas da bicicleta: senti que estava pronta pra abandonar a consultoria e me dedicar completamente á area gastronômica, como cozinheira e foodstylist, projetando essa manobra por 06 meses para ver como esse empreendimento funcionaria tendo a minha atenção total, foco e dedicação para crescer e se tornar de fato, minha única fonte de renda.


E tudo isso para em Agosto eu escrever os dois textos mais difíceis da minha vida as redes sociais, com apenas uma semana de intervalo entre os dois.


O primeiro texto foi celebrando que eu havia conseguido transformar a cozinha Fika&Hygge, o meu trabalho assinado e que trazia em tudo dele, um pedacinho de mim, na minha principal e única fonte de renda. Naquele momento, eu senti orgulho e pude ver o valor da minha jornada.


E o segundo, uma semana depois, me despedindo do meu pai, sem ter a menor ideia de como prosseguir com o meu viver, sem sentir que eu tinha direito á isso e quem dirá em como saber conduzir o meu trabalhar estando completamente desamparada. Eu só sabia que eu precisava, até pelo sustento da minha família, mas eu não fazia ideia de como eu poderia ou se conseguiria.

Esse era meu pai, seu Elias, conhecido de muitos clientes aqui da cozinha por fazer as entregas dos pedidos no final de semana para me ajudar e mostrar que me apoiava no caminho que eu tinha escolhido
Esse era meu pai, seu Elias, conhecido de muitos clientes aqui da cozinha por fazer as entregas dos pedidos no final de semana para me ajudar e mostrar que me apoiava no caminho que eu tinha escolhido

REDE DE APOIO É FUNDAMENTAL

Nesses anos todos eu sempre me senti privilegiada, porque mesmo enfrentando inúmeras dificuldades, fossem elas burocráticas, econômicas, sociais ou pandêmicas, tudo para manter esse sonho vivo, eu sabia que tinha meu pai e a minha mãe ao meu lado de alguma forma acreditando no que eu fazia. Isso me dava energia pra continuar e me dava fé quando a minha parecia acabar.


Vejam bem, meus pais sempre foram pessoas simples, trabalhadores e o apoio deles nunca foi uma questão financeira, porque no meu lar, eram os três unidos como uma única força pra tentarmos construir algo nosso. Então a minha segurança vinha do amor e da crença deles em mim.


Quando meu pai partiu, parte do meu mundo ruiu. E eu não achei que eu fosse mais capaz, porque olhei pra vida daquele homem que até aquele momento sempre me pareceu invencível, vi tudo que tiraram dele até o último momento e pensei que se ele que era a minha fortaleza, minha coragem e a minha fé não conseguiu, porque eu iria conseguir?


E ali começou a minha peregrinação, ouvindo todas as vozes externas que me diziam como eu deveria mudar a minha vida para se adequar aquela realidade dolorida. Todas impositivas, deixando claro como se até aquele momento da minha vida meu trabalho tivesse sido "brincar de panelinha" mas que então agora eu precisava "crescer", ser mais responsável, assumir traços e vestes que não eram minhas e o quanto meu pai se orgulharia se eu fizesse isso, se eu desistisse, se eu fosse mais adequada e normal. Usaram a memória e a voz de uma das pessoas que eu mais amava pra me fazer sentir inadequada, incompetente e ainda mais sozinha.


Mas nenhuma voz foi mais implacável do que aquela que era interna e se sentiu acuada, cansada e abandonada. Então revisitei cada fracasso, me culpei por todos eles. Tentei seguir esse roteiro que me empurravam como solução mágica para minha vida cheia de insucessos e rasguei o script no meio das cenas e desci do palco, completamente sem paciência e morrendo com minhas dores entaladas na garganta. Me senti presa.


E foi nessa hora, no momento de maior medo que já senti abater sobre a minha vida, que tantas pessoas entre amigos, colegas e até mesmo clientes que já haviam passado pela minha cozinha se dispuseram a me lembrar do porque eu faço o que eu faço. E eles acreditaram em mim, me deram oportunidade e meio de eu me reerguer. Eles, me trouxeram gentileza, compreensão e apoio. Eles fizeram por mim o que eu sempre tentei fazer com o meu trabalho, espalhar amor.


Como a gente desiste daquilo que faz, quando recebe tanto carinho? Ou quando ouve que você tocou a vida dessas pessoas seja com o seu trabalho ou com sua amizade, que as fez querer retribuir com confiança, acolhimento e oportunidade?


Eu me senti forte, me senti vitoriosa, me senti bonita e me senti completa, porque além de qualquer métrica financeira que sempre foi oscilante ao longo da minha vida profissional, eu descobri naquele momento que consegui o que eu mais sonhava: ter um trabalho onde eu criava conexões reais com as pessoas, entregava minha dedicação e amor á elas e elas viram tudo isso, mesmo por meio de coisas tão simples.


E por isso eu falo com todo meu pulmão e sem a menor dúvida, que REDE DE APOIO É FUNDAMENTAL.


Se você não tiver uma dentro de casa, ou na tua família, tente construir uma junto de amigos, ou até mesmo junto de outros empreendedores. Participe de grupos do seu bairro, converse com eles e faça amizades. São as pessoas que fazem a diferença na nossa jornada.



SÓ POR MAIS UM DIA

Eu continuo tentando e faço isso um dia de cada vez.

Tem dias que tudo se encaixa e tem outros que é difícil acreditar que alguma coisa vai certo, entre eles ainda tem aqueles que parece que nada vai acontecer.


Não é fácil, mas eu encontrei um lugar no qual apesar de qualquer desafio, eu me sinto confortável que é o de ter o direito de ser quem eu sou, o lugar da autoaceitação da minha jornada e da minha escolha de vida. Eu finalmente sei que não importa o que eu enfrente, porque nada muda quem eu sou ou me tira o direito de ter esperança, carinho e amor, afinal é isso que eu sou.



O QUE EU ACREDITO

Eu sempre defendi a ideia de democratizar acessos - seja para alguém que tá começando nessa área e não tem como investir muito dinheiro e nem desperdiçar verba com ingredientes caros, receitas incertas e técnicas cheias de segredos. Ou seja para você aprender algo diferente para encantar ou presentear uma pessoa querida.


De uma forma ou de outra, seja numa relação comercial, ou como parte da nossa rotina doméstica, a cozinha sempre é uma oportunidade de aprendermos que todos nós, se tivermos disposição para aprender e respeito pelos ingredientes, somos capazes de realizações prazerosas que encantam os olhos e o coração.


Além disso, a cozinha nos celebra, pois nos tira desse conteúdo pragmático viralizado do alimento como mero fator nutricional e nos lembra da importância social e cultural que cada refeição carrega. A cozinha nos une, nos lembra que merecemos qualidade e variedade no nosso consumo. A cozinha nos humaniza.



NÃO TEM FINAL FELIZ

Esse texto não tem um final feliz, porque essa história não tem final: eu ainda tô escrevendo a minha vida e ela tá só começando, recomeçando e continuando, como eu posso e como sei.


Escrevam a de vocês também e escrevam com amor, propósito e fé.


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